Além da vibe. Reggae encontra na região do Caí um by Amanda Büneker Beta Redação Medium

Além da vibe.


Reggae encontra, na região do Caí, um espaço para crescer e desenvolver inesperado cenário cultural.


Por entre os traços da histórica cidade, além das marcas de uma região de interior que se vê tomada pela urbanidade, São Sebastião do Caí, a 60 quilômetros de Porto Alegre, tornou-se o berço de um movimento artístico que pouco condiz com o lugar. É entre as montanhas do pé da serra que durante as últimas três décadas a energia positiva e a melodia jamaicana inspiraram e se tornaram o centro do que pode ser classificado como a cena do reggae no Vale do Caí.


Longe de qualquer praia, litoral ou conexão lógica para um mero observador da cultura do reggae, esta realidade pode ser um tanto curiosa e surpreendente, porém, há um porquê. A cidade, uma das maiores da região, respira música e sempre teve em sua conta diversas bandas e músicos de extrema qualidade em formação. Do rock ao sertanejo, do pagode ao reggae, a cidade já ferveu como uma grande capital da diversidade musical e do entretenimento, e mesmo hoje, sem muitos espaços dedicados a este segmento, continua na batalha, lapidando muitos artistas.


A trajetória.


É exatamente neste momento que a cena do reggae chega em seu pico de composição. Com muita sintonia, as principais bandas que regem esse movimento são Nahê, Dabêra e Omahhung, além de diversas outras que seguem esta linha. Todavia, para chegar neste ponto, o caminho foi longo e é merecedor de horas de organogramas e ligações entre nomes, como nos filmes policiais, para no fim entender que todos estão conectados e que, provavelmente, já dividiram o palco em algum momento de suas carreiras. No emaranhado de nomes que acabam surgindo, um dos primeiros a serem citados é a banda Raggauê que, por volta de 1996, teria iniciado toda a trajetória.


Quem me narra este percurso é o responsável pela própria sobrevivência da cena, intitulado “o que nunca deixou a peteca cair”: o porto-alegrense de 32 anos Fabiano Castilhos é vocalista da banda Nahê; na sua mudança para o interior, acabou moldando o cenário atual.


A história toda se desenrola de sua memória, com adendos de seus companheiros de banda, William Neis (baterista) e Lelê Griebler (guitarrista e produtor), no estúdio da LG Produções Fonográficas, um local discreto em meio à tranquilidade do que pode ser considerado um resquício da vida rural, mas com a movimentada RS 122 como vizinha de poucos metros.


Naquele espaço peculiar, com a cara e a energia do reggae, o relato de como tudo se iniciou começa a ganhar uma estrutura com histórias de bandas que se formaram em meio a churrascos, sessões de tatuagem e assim por diante. A situação é tão misturada que chega ao ponto de os próprios integrantes se questionarem: “mas fulano também tocou na banda?”.


“Na verdade, cidade pequena é isso, todo mundo junto, é a mesma cena”, destaca Felipe Silva, 22 anos, baixista das bandas Nahê e Dabêra.


Assim, os músicos foram se mesclando, e da antiga formação da Raggauê viriam a nascer novos grupos, como a Natural Fellings, da qual Fabiano fez parte. “Eu marcava as coisas e não tinha nem banda, porque a gente curtia tocar”, conta. Com o passar do tempo e a explosão inicial do sertanejo, algumas bandas chegaram ao fim, momento que marcou a quase morte do movimento. Porém, ele sobreviveria e retornaria aos poucos, até chegar o ano de 2008, data do surgimento da Tributo Reggae, que se transformaria na banda Nahê em 2022. E foi nessas trocas, idas e voltas, que as bandas encontraram uma forma de compor uma união. “Conseguimos firmar essa sintonia”, explica Castilhos.


Antiga formação da banda Nahê , da esquerda para direita: Fabiano Castilhos (vocal), Henrique Barth (guitarra), William Neis (bateria) e Felipe Silva (baixo). (Foto: Divulgação/Josué Braum)


Nesse meio tempo, outros conjuntos também foram se transformando. Com a participação de músicos como Lelê Griebler, que, além de investir na carreira como produtor, fez parte da formação inicial da banda Dabêra, com Donavan Nascimento (vocal), e agora faz parte da Omahhung, com Thaís Alves e Rui Schneider.


Dando continuidade ao Projeto Dabêra, Donavan se juntou a dois integrantes da Nahê: Felipe Silva (baixista da Nahê) e William Neis (baterista da Nahê), que compõem a atual formação. Já é notável uma diferente vibração vinda de uma nova geração influenciada e lapidada durante a juventude pela cena inicial do reggae.


Rumos mais concretos.


Para muitos, é um simples hobby — a tal da tradicional banda de covers que anima os pubs da região — característica que, aos poucos, a cena quer ressignificar. Por isso, com o objetivo de construir uma situação mais profissional, um dos primeiros passos foi dado com a composição de músicas autorais.


“Escrevendo, a gente está materializando um pensamento, colocando algo íntimo para fora”, diz Donavan, vocalista e guitarrista do projeto Dabêra.


Playlist do EP lançado pela banda Nahê este ano, com 4 composições autorais. (Vídeo: Youtube/Nahê Reggae)


Foi em busca dessa transformação que, no verão de 2022, a então banda Tributo Reggae realizou uma semana de turnê no tão almejado litoral de Santa Catarina, considerado um dos grandes espaços do reggae no Brasil. A temporada de shows decorreu no estilo farofeiro, sem lugar para ficar e com acampamento onde dava, situação da qual agora dão risada. Na época, foi um ponto de virada na perspectiva sobre a banda. No decorrer dos shows, sentiram que precisavam criar sua própria identidade, ou essência, e assim nasceu Nahê, nome elaborado no caminho de volta do litoral, no insight de um jogo de palavras: a junção do termo ‘na essência’.


“A música é uma troca de energia muito grande para nós, passa de um pra outro”, explica Fabiano.


E como nessa história todos se encaixam: foi no estúdio de Lelê, em parceria com Matheus Oliveira da Fonseca, que muitas bandas iniciaram seus processos de gravação e composição. A partir disso, investiram também em imagem, marketing e comunicação. Criou-se então a noção de empresa e da profissão músico no grande grupo.


“Uma cena só cresce se as bandas se ajudam e se apoiam”, enfatiza o produtor Lelê Griebler.


Componentes da história da cena do reggae em São Sebastião do Caí. Da esquerda para direita: Lelê Griebler, William Neis, Henrique Barth, Matheus Oliveira da Fonseca, Felipe Silva, Fabiano Castilhos, Fábio Gomes, Gabriel Maciel (os dois últimos da banda Natural Dread, de Caxias do Sul). (Foto: Josué Braum/Bier Emporium)


Como parte dessa transformação, surgiu o projeto Green Sessions, um trabalho independente que reúne bandas e músicos para sessões de vídeo em meio à natureza. Ele foi desenvolvido para englobar o mercado audiovisual (crescente na música) e o impacto das apresentações ao vivo. A ideia deu certo e se expandiu, com eventos aos finais de semana no Parque Centenário, no centro de São Sebastião do Caí.


A energia do Reggae.


Um gênero musical que transcende barreiras, o reggae teve sua origem na Jamaica, durante a década de 1960. Popularizou-se, principalmente, na voz de Bob Marley, um grande ícone do ritmo, e sua banda, The Wailers. A melodia, cheia de swing e groove, a filosofia Rastafari e as letras fortemente ligadas às críticas sociais conquistaram o mundo, abrindo espaço para um novo formato de musicalidade.


Dessa forma, o ritmo se tornou conhecido por seu desprendimento das coisas superficiais e materiais e pela ligação a temáticas sociais, espirituais, ecológicas e sentimentais, tudo com uma linguagem básica, porém, profunda, como elucidado por William quando ele diz que “no reggae se fala fazer amor”.


Justamente por essas características, a cena vem se popularizando. “A galera estava com sede disso”, afirma Donavan. E complementa: “Escutar certo tipo de música vai mexer com alguma coisa (íntima), é uma terapia”.


Tudo isso se nota ao acompanhar o show de uma das bandas, como eu fiz, ao assistir a Dabêra na cidade de Feliz, próxima ao Caí. A receptividade do público local é visível: não havia, em meio a multidão, aquele que não se desprendesse do copo de chope ou celular por alguns segundos para realmente curtir a música, sem contar os que se entregavam de corpo e alma à vibe que parecia tomar conta do local.


O exato motivo do reconhecimento da cena pela população ainda é complexo de se apontar, no entanto, a explicação de Felipe parece bastante plausível: “Sempre vi o reggae como um estilo que todo mundo gosta”.

Www binary-option-robot com revisão

Moeda estrangeira on-line Maringá. 1. 2022. - Robô de Opções Binárias. Robô de opção binária (binário-opção-robo). Melhor Opção Binária Robô...